Quando Ghost of Tsushima chegou, ele foi mais que um jogo: tornou-se um acontecimento cultural. Em meio ao desgaste dos mundos abertos genéricos e ao isolamento da pandemia, a obra da Sucker Punch encantou pela beleza, atmosfera poética e combate elegante. Agora, anos depois, Ghost of Yotei surge como herdeiro espiritual desse legado e embora não cause o mesmo choque inicial, prova ser uma evolução marcante e confiante.
Atsu: Vingança, dor e redenção silenciosa
No centro da nova jornada está Atsu, uma mercenária moldada pela tragédia e movida por uma fúria inabalável. Ainda criança, viu sua família ser massacrada pelos Seis de Yotei, liderados pelo implacável Lorde Saito, que governa Ezo com tirania e desprezo pelo shogunato.
Anos depois, Atsu retorna ao norte — endurecida pela guerra, distante de qualquer afeto — com um objetivo simples e devastador: caçar e eliminar cada um dos responsáveis por seu sofrimento. Mas Yotei vai além da vingança: confronta o jogador com dilemas morais, honra e escolhas de peso, evocando a introspecção dos grandes filmes de Akira Kurosawa.
Ezo: Um mundo que respira beleza e brutalidade

Poucos mundos abertos no PlayStation 5 são tão deslumbrantes e vivos quanto o de Ghost of Yotei. De pradarias floridas que dançam ao vento a florestas queimadas cobertas por folhas escarlates, cada região reflete não só sua geografia única, mas também a influência dos Seis de Yotei que ali reinam. O mapa não é apenas cenário e ele conta a história junto com o jogador.
A estrutura de regiões traz atividades familiares: santuários, emboscadas, acampamentos inimigos e segredos escondidos. Embora a fórmula possa soar previsível, os confrontos contra os Seis são pontos altos, batalhas intensas, desafiadoras e cinematográficas que compensam a repetição.
Combate: Brutalidade coreografada com elegância
Se Tsushima já oferecia um combate estiloso, Yotei eleva tudo um nível acima. Paradas precisas, contra-ataques brutais, armas improvisadas e fluidez impressionante tornam cada duelo viciante. Novidades como o uso da odachi e da kusarigama, além da habilidade que transforma Atsu em uma presença quase mítica no campo de batalha, criam um sistema brutal, mas elegante.
Ainda existe a lógica de “pedra, papel e tesoura”, onde cada tipo de inimigo exige uma abordagem específica, algo que limita a liberdade criativa. Porém, a progressão ganha charme ao exigir que o jogador aprenda novas técnicas com mestres espalhados por Ezo, integrando narrativa e evolução.
Furtividade e companheirismo: a sombra e o lobo
O stealth continua funcional, às vezes até permissivo demais. Invadir acampamentos é divertido, mas a IA complacente reduz a tensão. Por outro lado, o destaque vai para a relação com um lobo vingativo, aliado silencioso que compartilha da dor de Atsu. A conexão entre ambos é emocionante e carregada de simbolismo: mesmo em um mundo frio e cruel, há espaço para alianças forjadas pela perda.
Além do peso emocional, essa parceria se reflete no gameplay com ataques conjuntos, habilidades únicas e um sistema de progressão próprio. Fazer um standoff com o lobo ao lado é quase mítico.
Narrativa: Uma lâmina afiada, mas irregular
A estrutura não linear, que permite caçar os Seis de Yotei em qualquer ordem, dá liberdade, mas por vezes compromete o ritmo. Alguns arcos, como o da Kitsune, parecem desconectados ou apressados, enquanto outros, como o de Oni, têm impacto profundo e memorável.
Apesar das irregularidades, o clímax final é poderoso, brutal e emocional. As interações com Lorde Saito ganham peso real conforme Atsu deixa um rastro de caos, e até missões secundárias reforçam a reputação crescente da protagonista, afetando a reação dos inimigos ao encontrá-la.
Um espetáculo técnico e artístico
Visualmente, Ghost of Yotei é um dos jogos mais impressionantes da geração. A iluminação dinâmica, o clima mutável e o nível de detalhe são absurdos, especialmente no PS5 Pro, que entrega 60fps com ray tracing. A trilha sonora é outro triunfo, ora melancólica, ora épica, acompanhando a jornada de Atsu com sensibilidade.
A customização de builds evoluiu muito: armaduras, amuletos e um prático sistema de loadouts permitem montar estilos variados, do assassino silencioso ao guerreiro implacável que aterroriza inimigos. Explorar Ezo rende recompensas reais, conectadas ao progresso do personagem.
Conclusão: O fantasma retorna, diferente e marcante
Ghost of Yotei pode não carregar o frescor revolucionário de Tsushima, mas encontra sua própria identidade. É mais ousado, maduro e completo — mesmo tropeçando em ritmo e repetição de atividades. Entre duelos sangrentos, paisagens arrebatadoras e silêncios cheios de significado, entrega uma experiência marcante.
- Desenvolvedora: Sucker Punch
- Publisher: PlayStation
- Plataformas: PlayStation 5
- Review feito no: PlayStation 5 Pro