O primeiro Death Stranding foi um divisor de águas. Um jogo estranho, contemplativo e profundamente pessoal, capaz de dividir opiniões como poucos. Mas agora, em sua sequência, Kojima Productions parte de um ponto de segurança criativa. A base já está construída, a linguagem, o universo e até o gênero inventado, e o que vemos aqui é um criador trabalhando com liberdade total para evoluir sua própria fórmula.
O resultado? Uma experiência mais ágil, dinâmica e cativante. Death Stranding 2: On the Beach mantém a essência do que o tornou único, mas remove atritos desnecessários e aprofunda mecânicas já consagradas, deixando o jogador mais livre, sem abrir mão do peso narrativo e filosófico.
O elo continua: de Sam e Lou ao mundo todo
Ambientado 11 meses após os eventos do primeiro jogo, reencontramos Sam e Lou em uma vida simples no México, longe dos holofotes e das redes quirais. Mas a calmaria dura pouco. Fragile (interpretada com intensidade por Léa Seydoux) o convoca para uma nova missão.
Apesar da proposta familiar, a estrutura narrativa é mais coesa, e o ritmo flui melhor que em qualquer outro jogo de Kojima. Há espaço para as já tradicionais cenas longas (algumas passam dos 20 minutos), mas agora elas funcionam como ápices emocionais e não interrupções. O arco narrativo é menos profético e mais emocional, e é justamente aí que a obra ganha força.
Sistema de entregas mais vivo, responsivo e recompensador

A base do gameplay continua girando em torno de entregas: carregar, planejar, sobreviver. Mas o sistema foi profundamente aprimorado. A forma como o jogador escolhe seu trajeto agora é mais estratégica e viável, graças a novas ferramentas, melhorias nos veículos, interações ambientais e, principalmente, uma inteligência artificial mais natural.
Você pode seguir pelo caminho mais longo para evitar inimigos, montar rotas com construções de outros jogadores, ou simplesmente enfrentar os perigos de frente. A liberdade real está em como você decide reagir ao imprevisível: seja um terremoto, uma patrulha hostil ou uma avalanche levando embora sua carga.
Combate e furtividade mais refinados
Ao contrário do primeiro jogo, a violência agora é uma escolha mais viável e o combate foi ajustado com elegância. Sam ganha novas manobras evasivas, armas criativas (algumas hilárias), e há mais responsividade ao se envolver em tiroteios ou embates físicos. Os inimigos também foram melhorados. Esquecer seu veículo perto de uma base pode ter consequências: guardas podem levá-lo embora, algo frustrante, mas coerente com o novo senso de realidade do jogo.
Furtividade também brilha mais. Os inimigos agora respondem de forma mais verossímil, e é possível completar missões sem disparar um único tiro, desde que se planeje com cuidado.
Mundo dinâmico e eventos climáticos que fazem diferença
O mapa australiano é menos desolado que os EUA do jogo anterior, mas ainda assim desafiador. Efeitos climáticos como tempestades de areia, enchentes e terremotos são eventos que não apenas decoram a paisagem, eles alteram o gameplay, derrubam estruturas, mudam estratégias e adicionam imprevisibilidade. É um mundo realmente vivo, que responde ao jogador de maneira orgânica.
Batalhas contra chefes: visuais incríveis, mas com fórmula repetida

Visualmente, os confrontos contra chefes impressionam. Há batalhas que vão te deixar boquiaberto, como uma em especial que parece tirada de A Origem. No entanto, a estrutura desses embates ainda se apoia no modelo clássico: esquivar, atacar, repetir. O novo sistema de combate ajuda a torná-los mais intensos, mas a variedade deixa a desejar em relação ao potencial visual e narrativo.
Missões paralelas e pequenas histórias que aquecem o coração
Entre uma entrega principal e outra, há muito o que explorar. As histórias paralelas (como as do Caçador de Fantasmas, Chef de Pizza e o Pescador) são algumas das mais cativantes e bem escritas, revelando o cuidado com cada NPC e dando mais profundidade ao mundo. A progressão baseada em afinidade com as bases permanece, mas agora há mais recompensas, equipamentos e conexões emocionais.
Trilha sonora e atuações: o DNA emocional de Kojima
Mais uma vez, Kojima prova ser um curador excepcional. A trilha sonora é marcante, com novas composições de Ludvig Forssell, participações do Woodkid e uma seleção de faixas licenciadas que amplificam cada momento.
As atuações são um espetáculo à parte. Norman Reedus entrega uma performance mais contida, mas poderosa. Luca Marinelli (Neil) é o grande destaque do elenco — intenso, enigmático, memorável. Shioli Kutsuna (Rainy) também brilha, e Troy Baker reprisa Higgs com mais intensidade do que nunca, roubando cada cena.
Veredito

Death Stranding 2: On the Beach é tudo que uma sequência deve ser: respeita o passado, melhora o presente e aponta para um futuro ainda mais ambicioso. Hideo Kojima entrega uma obra madura, conectada, rica em detalhes e, acima de tudo, profundamente humana. É o tipo de jogo que só poderia existir pelas mãos de alguém como ele, e reafirma por que ele continua sendo uma das vozes mais únicas da indústria.
- Desenvolvedora: Kojima Productions
- Publisher: Sony Interactive Entertainment
- Plataformas: PlayStation 5
- Review feito no: PlayStation 5 Pro
- Ritmo narrativo muito melhor que o original
- Mundo dinâmico e imprevisível, com eventos climáticos realistas
- Combate mais responsivo e furtividade recompensadora
- Trilha sonora e atuações impecáveis
- Missões paralelas bem escritas e cheias de personalidade
- Sistema de entregas aprimorado com liberdade real de escolha
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