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The Last of Us foi desenvolvido pela Naughty Dog e lançado em Junho de 2013 pela Sony com exclusividade para Playstation III; um ano depois, a Sony relançou o jogo para o Playstation IV, em uma versão Remastered. The Last of Us foi um dos últimos suspiros da sétima geração, e foi responsável pelo grande momento final de vida do PSIII, e, ao mesmo tempo, serviu como um grande título de abertura para o PSIV. The Last of Us II parece ir no mesmo caminho, finalizando a geração atual e abrindo o caminho para a próxima.

The Last of Us carrega em si virtudes que o destacam como um dos marcos da Indústria dos Jogos Digitais. Dirigido por Bruce Straley e Neil Druckmann, The Last of Us é, técnica e conceitualmente, um dos ápices do PSIII, extraindo um acabamento visual impressionante, com uma riqueza de texturas e iluminação absurdas, em uma ambientação rica e detalhada. É um jogo digital que se utiliza da beleza gráfica e de um sound design próximo a perfeição para imergir o jogador no mundo do jogo. Mas é a atuação dos personagens o grande destaque do título. Troy Baker e Ashley Jonhson emprestam muito mais do que suas vozes e aparências aos modelos 3D do jogo. Eles conseguem, graças a tecnologia de captura de movimento, dar dramaticidade e uma carga emocional enorme aos sentimentos e expressões de Joel e Ellie, criando uma sensação profundamente real na interpretação. Neste sentido, Joel e Ellie transpassam a suas limitações como personagens, existindo em uma realidade de drama narrativo enquanto estamos disfrutando do jogo. 

A história é centrada na relação entre Ellie e Joel, dois sobreviventes de uma crise global causada por uma mutação do fungo cordyceps que infecta boa parte da população, transformando-os nos estaladores, zumbis agressivos e de aspecto grotesco, que apesar de não enxergarem, tem a audição extremamente aguçada. A narrativa se conduz com dramas pessoais pesados, e os primeiros momentos do jogo já são um soco na cara do jogador, jogando-o em turbilhão de emoções difíceis de digerir. Não iremos além, de modo a evitar qualquer tipo de spoilers e prejudicar a experiência de quem nunca vivenciou o jogo. Mas é um fato que que The Last of Us é uma das melhores construções narrativas já propostas em um jogo digital.


The Last of Us é um jogo de ação e sobrevivência em terceira pessoa. O balanceamento entre o stealth e a ação é bem equilibrado, gerando um ritmo de gameplay cadenciado e excepcionalmente imersivo. Apesar de ter fortes influências de jogos de survivor horror, o clima em The Last of Us é muito mais focado em tensão do que em medo. E essa tensão é carregada pela constante falta de munição, o que faz com que todos os recursos disponíveis sejam essenciais para o avanço dentro do jogo, de um simples tijolo à utilização de um lança-chamas. Além de um arsenal relativamente amplo de armas, a variedade de comportamentos dos inimigos, humanos e estaladores (os zumbis), possibilita uma série de abordagens diferentes para a mesma situação. O único adendo é a sua linearidade: são poucas as possibilidades de exploração nos ambientes e muitas vezes o jogador se vê “preso” ao seguimento da narrativa, quando poderia, por exemplo, explorar alguns prédios em busca de recursos. No entanto, considerando o foco de valorização da narrativa do jogo, esta é uma decisão de design extremamente compreensível, de modo a manter toda a concentração do jogador “na linha” e em seu prosseguimento. The Last of Us é sobre viver uma história, e não apenas sobre apertar botões na hora certa.

Até 2019, The Last of Us vendeu cerca de 20 milhões de unidades, considerando a versão original e a Remastered, vencendo também mais de 240 prêmios de “Jogo do Ano” em 2013. Muito além de seu sucesso de mercado e de crítica e da qualidade impecável de seus aspectos técnicos enquanto produto de entretenimento, The Last of Us é uma obra única, um drama interativo, o tipo de experiência que só se faz possível graças a soma magistral entre jogabilidade, estética e narrativa. É um conceito que extrai o melhor do que um jogo digital pode proporcionar, contando uma história extraordinariamente cheia de força, penetrante e envolvente, ao mesmo tempo que nos prende em mecânicas de combate e exploração, mesmo que limitadas, intensas e viscerais. Joel e Ellie são personagens contruídos em cima de um drama assustadoramente real para o momento atual, transbordam vida e sentimento em meio a todo o caos. The Last of Us é indispensável.