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O estrondoso sucesso de Final Fantasy VII Remake fez reascender a importância dos JRPGs e sua estrutura mais ‘clássica’ e fechada. Não que obras como Dark Souls, The Elders Scroll V: Skyrim, The Witcher, Mass Effect e Dragon Age não tenham suas qualidades. Pelo contrário, cada um destes games trouxe uma perspectiva nova e diferente para o gênero dos RPGs, mesmo não sendo, em alguns casos, ‘apenas RPGs’. Mas é inegável que os RPGs Japoneses, com seus clichês tradicionais e cheios de charme foram e continuam sendo um nicho com uma legião de fãs fiéis que busca, muito além da evolução técnica e mecânica, histórias cativantes e aventuras únicas. Games como Persona 5 e Dragon Quest XI não são sucesso de mercado e crítica à toa.

No entanto, é preciso celebrar e comemorar uns dos maiores ícones do gênero. Final Fantasy IX, que fez 20 anos no último dia 7 de Julho, é um dos maiores representantes dos JRPGs. Desenvolvido e publicado pela SquareSoft e lançado originalmente no primeiro Playstation, no ano 2000 e remasterizado para diversas outras plataformas posteriormente, Final Fantasy IX talvez seja o ápice criativo e técnico da franquia no PS1, com um visual e animações impressionantes, ambientação excepcional, jogabilidade refinada e trilha sonora impactante, sendo um dos últimos grandes clássicos da plataforma.

Tudo começa com uma peça de teatro e um sequestro, mas a história acaba se dirigindo para propor questionamentos sobre existencialismo, quase que de maneira filosófica, fazendo com que os dilemas de cada personagem sejam explorados de forma a cativar o jogador em cada diálogo. Ou seja, prepare-se para questionar o valor do tempo e da vida, em uma construção narrativa densa e profunda. Zidane (não, não é aquele…), Steiner, Eiko, Amarant, Vivi e Gernet e tantos e tantos outros personagens se relacionam em uma trama que conquista por ser profunda e emotiva na medida certa e sem pender para o exagero que alguns jogos do estilo apresentam. Desde o desenvolvimento dos personagens à temática mais medieval e com tecnologias relativamente arcaicas, como a energia a vapor, aos diálogos e monólogos cheios de vida, tudo em Final Fantasy IX parece se encaixar de modo a construir uma aventura épica e divertida, e ao mesmo tempo imaginária como um conto de fadas. Ao mesmo tempo, Final Fantasy IX emoldura uma série de referências diretas aos outros jogos da franquia, servindo não apenas como mais um capítulo a parte, mas sim, como uma espécie de homenagem à toda a mitologia Final Fantasy, por vezes, explicando e expondo detalhes e particularidades de outros episódios sob uma nova ótica. Aliás, é aqui que talvez o termo Universo Final Fantasy faça mais sentido.

O gameplay é o clássico da franquia, com cidades e dungeons cheias de batalhas aleatórias e muita exploração, repletas de missões e sidequests pra fazer. O sistema de turnos, menus e Active-Time Battle é simples e funcional, com golpes, magias e os trances (equivalentes aos Limit Breaks); por mais que hoje, principalmente com o sistema apresentado em FFVII Remake, o sistema pareça um pouco antiquado e lento. Como um bom RPG, cada personagem tem características específicas, com guerreiros, magos e ladrões apresentando ações, habilidades e magias úteis e únicas; apesar de você não poder escolher as classes específicas de cada um, é possível montar seu grupo com quatro personagens que se adequem melhor ao seu estilo de jogo. Claro, os summons estão presentes: aqui, chamados de eidolons. No entanto, Bahamut, Shiva, Odin e Ifrit são muito menos impactantes para o combate, mas ainda servem como uma ajuda providencial. No entanto, o jogo também traz diversas inovações, como o Tetra Master, um card game original e bem divertido, jogável com cards coletados ao vencer batalhas; além disso, também é possível aprender as habilidades dos equipamentos, acrescentando uma camada a mais de utilidade e de estratégia para a montagem e seleção de armas, anéis e armaduras.

Dirigido por Hiroyuki Ito, sob supervisão Hironobu Sakaguchi, Final Fantasy IX foi desenvolvido com a intenção de mudar os rumos da franquia, mas, ao mesmo tempo, manter o seu legado e seus principais elementos. E conseguiu. Se Final Fantasy VII aborda uma temática mais futurista e tecnológica e Final Fantasy VII ser uma obra mais humana e atual, o nono capítulo é um retorno às origens fantasiosas da série, cheio de conteúdo narrativo e gameplay de qualidade inquestionável. O remake de Final Fantasy VII já se provou um sucesso indiscutível em termos de crítica e mercado, atualizando o jogo original à um novo público e atendendo os entusiastas e fãs mais antigos, e com isso, é muito provável que, em um futuro próximo, possamos revisitar a aventura em Alexandria em 4K e com um sistema de batalhas atualizada e mais dinâmico. Independentemente de um futuro remake ou não, Final Fantasy IX é um clássico marcante, atemporal e relevante; e por mais que não seja o capítulo mais revolucionário ou o mais celebrado da série, é um dos que faz mais justiça a todas as qualidades da franquia. É uma das obras mais icônicas da dos jogos digitais, facilmente.